sexta-feira, 17 de junho de 2011

Anunciar o Reino: Para quem e para quando?

Leia Mateus 5. 1-12

Nessa semana recebi a visita de um amigo que a muito tempo eu não o encontrava. Conversamos um bom tempo, relembrando os tempos de antigamente. Em determinado momento da conversa, ele me surpreendeu dizendo: - Cara, parece que a sua vida é marcada por perseguições, hein? No momento eu fiquei meio envergonhado, quis desconversar. Afinal, ser perseguido a vida inteira? Poderia parecer que eu era uma espécie de “caçador de encrencas” (o que não está de todo errado). Fique pensativo naquela noite. A mesma noite em que li o texto de hoje e fiz algumas descobertas interessantes e que gostaria de compartilhar com vocês hoje.
Mas, primeiro convém entender um pouco do que está acontecendo no texto lido.

Galiléia: O interior do interior do que um dia foi Israel, a região da Galiléia era a periferia da palestina. Enquanto outras cidades viviam do transporte, compra e venda de mercadorias caras, a economia da Galiléia dependia dos pobres pescadores, extorquidos pelo Império Romano. Era uma região de gente desconfiada, que tinha a sua cultura interiorana, prezava por ela e não era muito chegada a estrangeiros. Foi para essa gente humilde que Jesus profere o seu mais importante sermão: O conhecidíssimo Sermão da Montanha. Ele olhou olho-no-olho cada pessoa que compunha aquela multidão, chamou os seus discípulos para mais perto, e começou a falar sobre um Reino que nunca alguém tinha ouvido falar. Isso nos leva para a primeira descoberta que fiz ao ler esta passagem: O sentido da vida de Jesus.

Pode parecer óbvio. Mas os cristãos e cristãs em geral dão tanta atenção para a morte de Jesus que se esquecem que ele ressuscitou e que ele viveu! Isso mesmo! Antes do Calvário, como diz a tradição cristã, Jesus viveu aproximadamente 33 anos! Garanto que se ele levado uma vida pacata, fazendo pequenos instrumentos de madeira, ele não teria sido assassinado na cruz. A morte de Jesus é conseqüência da vida que ele levou e por isso entender o que ele fez de sua vida é tão importante. Pouco sabemos sobre o que aconteceu na sua infância. Mas sabemos com certeza o que ele fez durante o seu ministério: Ele anunciou o Reino de Deus/Reino dos Céus.

Infelizmente, muitas igrejas hoje se esqueceram desse detalhe tão importante e óbvio e passaram a anunciar outras coisas que não o Reino de Deus. E o que tem tomado o lugar do Reino de Deus na Igreja tem sido coisas banais como: de Auto-ajuda barata, enriquecimento fácil (comumente chamado de “Bênção de Deus”); de anunciadora do Reino de Deus a igreja passou a ser palco de um Show da Fé onde o milagre foi transformado em espetáculo. Mas não culpemos só esta ou aquela igreja. Culpados também somos nós quando fazemos da nossa vida um reflexo do mundo de horror e não do Reino de Deus. Quando agimos com injustiça para com o outro estamos propagando o Reino do Diabo e não o Reino de Deus.

O que acontecerá com a nossa cidade, com o nosso país, com a nossa igreja se eu e você continuarmos a permitir estes equívocos? Sim! Eu e você! O exemplo de Jesus, de anunciar o Reino de Deus com a sua própria vida ao ponto de perdê-la, nos constrange a estabelecer um compromisso de vida com a pregação e com a construção do Reino de Deus. Não fomos chamados para ficar sentados e calados em um banco de Igreja. Esse também é o desafio proposto pela Santa Ceia: o de que anunciemos Jesus até que ele venha. Mas para quem anunciaremos este Reino de Deus? Este Reino do Céu? É aqui que acontece a segunda descoberta:

O Reino do céu é para os pobres de espírito! Mas o que quer dizer isso? Como alguém pode ser pobre de espírito, gente? Há quem acredite que Espírito é o mesmo que fantasma. Mas não é. Espírito ou Pneuma em grego ou Ruach, em hebraico, são palavras que representam o ar em movimento. Mas Ruach, que é Espírito em Hebraico, não é apenas vento. É fôlego de vida! Por isso podemos dizer que pobre de espírito é aquele ou aquela que é pobre de vida. Alguém que está em uma situação de privação tão extrema que sequer a própria vida lhe pertence.

Algumas pessoas, por motivos que eu nem imagino, se acham auto-suficientes. Acreditam que já tem tudo aquilo de que necessitam e que Deus é só um detalhe dominical. Pessoas assim, não se enganem, estão fora, mas também estão dentro, da igreja. Cristo não morreu por essas pessoas; como ele mesmo disse, não veio trazer remédio aos sãos. A boa notícia é para quem está doente, para quem assume sua dependência de Deus. A libertação pregada por Cristo é destinada para as pessoas que purificam os seus olhos e se identificam com o pobre de espírito. Só é possível receber a libertação de Cristo, fazer parte do Reino de Deus, quando se assume que, em algum momento da vida se esteve preso.

Essa interpretação nos propõe desafios. Grande desafios. Porque identificar-se com o pobre de espírito, com o nosso irmão ou irmã é compartilhar de suas aflições; sentir na própria pele a dor da angústia, da tristeza, da incerteza; é ser violentado pela injustiça do mundo. A parte boa é que desta forma compartilharemos também a fome e a sede por justiça. E quando o povo de Deus, quando os pobres de espírito, quando e você estamos famintos e sedentos por justiça, disse Jesus: Seremos fartos. Mas quando isso vai acontecer?

Aqui entra a terceira e última descoberta: O sermão do monte trabalha em duas perspectivas: a da esperança alimentada pela fé de que seremos atendidos e a perspectiva do compromisso com o agora, com o hoje. Jesus diz o que o Reino de Deus será. Ele diz que o Reino de Deus É. Isso quer dizer que ele JÁ EXISTE, ESTÁ POR AÍ, esperando que os seus legítimos donos tomem posse dele. No entanto, para tomar posse desse reino, é preciso ser compromissado com a justiça. As outras bem-aventuranças são escritas de forma futura (os que choram irão ser consolados, quem for manso irá herdar a terra e etc).

Há quem confunda o Reino de Deus ou dos Céus com a nossa experiência após a morte ou após o arrebatamento. Jesus não está falando disso nas bem-aventuranças. Jesus usa palavras do cotidiano, idéias do dia-a-dia para expressar algo que acontecerá no mesmo plano do cotidiano, do dia-a-dia. O REINO DE DEUS É PARA HOJE! E o consolo? A fartura? O ver a Deus?... Todas essas condições dependem da ação do cristão e cristã. O consolador para quem chora, a fatura de justiça e a pureza de coração dependem da nossa ação como pessoas e como comunidade cristã.

Por isso as bem-aventuranças são, na verdade, promessas divinas, mas que dependem da nossa decisão por viver uma vida cristã, que esteja de acordo com a mensagem do sermão da montanha. Se eu e você e todo o mundo resolver viver de acordo com os ideais do sermão da montanha, aí sim poderíamos ver uma sociedade de fato cristã, transformada pelo poder do evangelho porque de nada adianta o cristãos serem a maioria no Brasil se estes não estão empenhados na transformação da sociedade; na construção do Reino de Deus HOJE.

Esta é uma decisão difícil. Pregar o Reino de Deus levou Jesus à morte. Pregar as mudanças sociais exigidas pelo sermão da montanha hoje, pode não matar, mas traz um bocado de perseguidores.
Lendo os versículos 10, 11 e 12 descobri que ser perseguido não é motivo de vergonha. Mas de orgulho.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.
12 Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.
Desse modo, encerro com o desafio que nos impõe o sermão da montanha: Que ao partilhar da mesa da Santa Ceia, renovemos o compromisso de ser como os profetas do passado. Ainda que isso nos renda alguns perseguidores.

Que Deus Pai Todo Poderoso, por amor de seu filho, Jesus Cristo, transforme estes perseguidores em seguidores e nos dê a coragem necessária para topar este ministério: O de anunciar o Reino de Deus

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