Nessa semana recebi a visita de um amigo que a muito tempo eu não o encontrava. Conversamos um bom tempo, relembrando os tempos de antigamente. Em determinado momento da conversa, ele me surpreendeu dizendo: - Cara, parece que a sua vida é marcada por perseguições, hein? No momento eu fiquei meio envergonhado, quis desconversar. Afinal, ser perseguido a vida inteira? Poderia parecer que eu era uma espécie de “caçador de encrencas” (o que não está de todo errado). Fique pensativo naquela noite. A mesma noite em que li o texto de hoje e fiz algumas descobertas interessantes e que gostaria de compartilhar com vocês hoje.
Mas, primeiro convém entender um pouco do que está acontecendo no texto lido.
Galiléia: O interior do interior do que um dia foi Israel, a região da Galiléia era a periferia da palestina. Enquanto outras cidades viviam do transporte, compra e venda de mercadorias caras, a economia da Galiléia dependia dos pobres pescadores, extorquidos pelo Império Romano. Era uma região de gente desconfiada, que tinha a sua cultura interiorana, prezava por ela e não era muito chegada a estrangeiros. Foi para essa gente humilde que Jesus profere o seu mais importante sermão: O conhecidíssimo Sermão da Montanha. Ele olhou olho-no-olho cada pessoa que compunha aquela multidão, chamou os seus discípulos para mais perto, e começou a falar sobre um Reino que nunca alguém tinha ouvido falar. Isso nos leva para a primeira descoberta que fiz ao ler esta passagem: O sentido da vida de Jesus.
Pode parecer óbvio. Mas os cristãos e cristãs em geral dão tanta atenção para a morte de Jesus que se esquecem que ele ressuscitou e que ele viveu! Isso mesmo! Antes do Calvário, como diz a tradição cristã, Jesus viveu aproximadamente 33 anos! Garanto que se ele levado uma vida pacata, fazendo pequenos instrumentos de madeira, ele não teria sido assassinado na cruz. A morte de Jesus é conseqüência da vida que ele levou e por isso entender o que ele fez de sua vida é tão importante. Pouco sabemos sobre o que aconteceu na sua infância. Mas sabemos com certeza o que ele fez durante o seu ministério: Ele anunciou o Reino de Deus/Reino dos Céus.
Infelizmente, muitas igrejas hoje se esqueceram desse detalhe tão importante e óbvio e passaram a anunciar outras coisas que não o Reino de Deus. E o que tem tomado o lugar do Reino de Deus na Igreja tem sido coisas banais como: de Auto-ajuda barata, enriquecimento fácil (comumente chamado de “Bênção de Deus”); de anunciadora do Reino de Deus a igreja passou a ser palco de um Show da Fé onde o milagre foi transformado em espetáculo. Mas não culpemos só esta ou aquela igreja. Culpados também somos nós quando fazemos da nossa vida um reflexo do mundo de horror e não do Reino de Deus. Quando agimos com injustiça para com o outro estamos propagando o Reino do Diabo e não o Reino de Deus.
O que acontecerá com a nossa cidade, com o nosso país, com a nossa igreja se eu e você continuarmos a permitir estes equívocos? Sim! Eu e você! O exemplo de Jesus, de anunciar o Reino de Deus com a sua própria vida ao ponto de perdê-la, nos constrange a estabelecer um compromisso de vida com a pregação e com a construção do Reino de Deus. Não fomos chamados para ficar sentados e calados em um banco de Igreja. Esse também é o desafio proposto pela Santa Ceia: o de que anunciemos Jesus até que ele venha. Mas para quem anunciaremos este Reino de Deus? Este Reino do Céu? É aqui que acontece a segunda descoberta:
O Reino do céu é para os pobres de espírito! Mas o que quer dizer isso? Como alguém pode ser pobre de espírito, gente? Há quem acredite que Espírito é o mesmo que fantasma. Mas não é. Espírito ou Pneuma em grego ou Ruach, em hebraico, são palavras que representam o ar em movimento. Mas Ruach, que é Espírito em Hebraico, não é apenas vento. É fôlego de vida! Por isso podemos dizer que pobre de espírito é aquele ou aquela que é pobre de vida. Alguém que está em uma situação de privação tão extrema que sequer a própria vida lhe pertence.
Algumas pessoas, por motivos que eu nem imagino, se acham auto-suficientes. Acreditam que já tem tudo aquilo de que necessitam e que Deus é só um detalhe dominical. Pessoas assim, não se enganem, estão fora, mas também estão dentro, da igreja. Cristo não morreu por essas pessoas; como ele mesmo disse, não veio trazer remédio aos sãos. A boa notícia é para quem está doente, para quem assume sua dependência de Deus. A libertação pregada por Cristo é destinada para as pessoas que purificam os seus olhos e se identificam com o pobre de espírito. Só é possível receber a libertação de Cristo, fazer parte do Reino de Deus, quando se assume que, em algum momento da vida se esteve preso.
Essa interpretação nos propõe desafios. Grande desafios. Porque identificar-se com o pobre de espírito, com o nosso irmão ou irmã é compartilhar de suas aflições; sentir na própria pele a dor da angústia, da tristeza, da incerteza; é ser violentado pela injustiça do mundo. A parte boa é que desta forma compartilharemos também a fome e a sede por justiça. E quando o povo de Deus, quando os pobres de espírito, quando e você estamos famintos e sedentos por justiça, disse Jesus: Seremos fartos. Mas quando isso vai acontecer?
Aqui entra a terceira e última descoberta: O sermão do monte trabalha em duas perspectivas: a da esperança alimentada pela fé de que seremos atendidos e a perspectiva do compromisso com o agora, com o hoje. Jesus diz o que o Reino de Deus será. Ele diz que o Reino de Deus É. Isso quer dizer que ele JÁ EXISTE, ESTÁ POR AÍ, esperando que os seus legítimos donos tomem posse dele. No entanto, para tomar posse desse reino, é preciso ser compromissado com a justiça. As outras bem-aventuranças são escritas de forma futura (os que choram irão ser consolados, quem for manso irá herdar a terra e etc).
Há quem confunda o Reino de Deus ou dos Céus com a nossa experiência após a morte ou após o arrebatamento. Jesus não está falando disso nas bem-aventuranças. Jesus usa palavras do cotidiano, idéias do dia-a-dia para expressar algo que acontecerá no mesmo plano do cotidiano, do dia-a-dia. O REINO DE DEUS É PARA HOJE! E o consolo? A fartura? O ver a Deus?... Todas essas condições dependem da ação do cristão e cristã. O consolador para quem chora, a fatura de justiça e a pureza de coração dependem da nossa ação como pessoas e como comunidade cristã.
Por isso as bem-aventuranças são, na verdade, promessas divinas, mas que dependem da nossa decisão por viver uma vida cristã, que esteja de acordo com a mensagem do sermão da montanha. Se eu e você e todo o mundo resolver viver de acordo com os ideais do sermão da montanha, aí sim poderíamos ver uma sociedade de fato cristã, transformada pelo poder do evangelho porque de nada adianta o cristãos serem a maioria no Brasil se estes não estão empenhados na transformação da sociedade; na construção do Reino de Deus HOJE.
Esta é uma decisão difícil. Pregar o Reino de Deus levou Jesus à morte. Pregar as mudanças sociais exigidas pelo sermão da montanha hoje, pode não matar, mas traz um bocado de perseguidores.
Lendo os versículos 10, 11 e 12 descobri que ser perseguido não é motivo de vergonha. Mas de orgulho.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.
11 Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguiram e, mentindo, disserem todo mal contra vós por minha causa.Desse modo, encerro com o desafio que nos impõe o sermão da montanha: Que ao partilhar da mesa da Santa Ceia, renovemos o compromisso de ser como os profetas do passado. Ainda que isso nos renda alguns perseguidores.
12 Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram aos profetas que foram antes de vós.
Que Deus Pai Todo Poderoso, por amor de seu filho, Jesus Cristo, transforme estes perseguidores em seguidores e nos dê a coragem necessária para topar este ministério: O de anunciar o Reino de Deus
Imagem disponível em: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2eacLz6SqJQtxQ0Fzg6ggCDmXMUclJCECH0-ATgAFIYC9N00oe5qUC_hmpggsO4FpBBE5fEInf2K-u6-43PJF9f5Lkf2FKXb_K-1h20RZz7DtL7yotcgpVQI_qh5sBff_D1187MX-YXc/s1600/serm%C3%A3o+do+monte.jpg
Nenhum comentário:
Postar um comentário