O ponto final da história

"E, chegada a tarde, porquanto era o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o reino de Deus, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José; o qual comprara um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha; e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro. E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o punham.

Mc 15. 42,47

Procure imaginar. Você no auge de sua vida; quando volta do trabalho encontra seu esposo ou esposa lindo e cheio de carinho pra dar. Na casa, as crianças correm felizes de lá para cá. Te abraçam, mostram pra você o desenho da sua família dentro de um coração. Os traços que só uma criança é capaz de desenhar.

Certo dia, no seu local de trabalho, passa um homem. Um andarilho. Mais um profeta anunciando um reino bom e novo que está por vir. Esse homem diz que o seu negócio agora será com pessoas. Será ajudar pessoas. Será salvar pessoas. Mas para isso, você teria que largar tudo. Sua família feliz, seu negócio rentável, a sogra que você tanto ama e partir numa caminhada por todo o Estado de São Paulo, junto com esse homem, que sequer tinha dinheiro para pagar um hotel pelo caminho.

Depois de três anos acompanhando este filho de Deus – você está convencido que não é apenas um profeta, mas o homem que pode acabar com toda injustiça da sociedade – ele é preso pelo DOPS e enforcado em praça pública.

Como você se sentiria? Você é capaz de sentir no seu estômago o desespero e o desalento que morou nos corações dos discípulos durante os dias em que Cristo esteve morto? Você seria capaz de culpar a Pedro por ter traído Jesus?

Nos versículos que lemos, o sentimento que há no ar é este: O final da história. “O sonho acabou”. De repente para os discípulos tudo perde o sentido. Eles tinham vivido mais uma história de jovens revolucionários – comuns à época – e nada tinha acontecido. A desesperança deles foi tanta que sequer quiseram continuar o trabalho de Cristo. Quando buscamos suas figuras na história, encontramos todos eles em suas antigas profissões. Foram três anos jogados fora.

O que tem feito você colocar um ponto final na sua história? Não são poucos os momentos em nossas vidas que imaginamos ter alcançado o fim. São momentos traumáticos que nos levam a parar.

Dizemos “Não é possível” para desilusões ideológicas. Quando acreditamos que a Política, o Grêmio estudantil ou até mesmo a Igreja não tem solução, somos levados a não crer na possibilidade de mudança e fatalmente a cruzar os braços e desistir.

Dizemos “Não sou capaz” para os desafios diários. Os muros estão erguidos pelo caminho. Alguns nos passamos por cima, outros caminhamos pelo lado. Mas quando aparece já o terceiro, sentamos no chão e choramos o nosso cansaço. Esse demônio chamado baixa-estima fala aos berros no nosso ouvido: Você não é capaz! E agora neste momento deve estar dizendo aos seus ouvidos diversos motivos pelos quais você seria incapaz.

Dizemos “Não há mais o que sonhar. O fim está próximo”. Quando janeiro bate à porta para anunciar o tempo que está passando, os sonhos começam a diminuir, ficando mais distantes. E não acreditamos ter tempo ou forças suficiente para correr até eles.
O que mais coloca fim nas suas histórias? O amor, ou a falta dele? O emprego, ou a falta dele? A vida, ou a falta dela?

"E, passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo. E, no primeiro dia da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol. E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? E, olhando, viram que já a pedra estava revolvida; e era ela muito grande. E, entrando no sepulcro, viram um jovem assentado à direita, vestido de uma roupa comprida, branca; e ficaram espantadas. Ele, porém, disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram. Mas ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro, que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse. E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém porque temiam.

Mc 16. 1-8

Havia três mulheres que tiveram um pouquinho de fé. Três jovens que, com a desculpa de ungir o corpo de Cristo, foram verificar se ele realmente ressuscitou. Desconfiar do impossível, já é um sinal de fé! E para sua surpresa, ao chegarem no túmulo, receberam o recado: “Jesus Cristo Ressuscitou!”.

Elas chegaram a anunciar aos discípulos. Eles não creram. Não creram porque assim como nós, ao passarem pela situação de desesperança, se armaram para não se machucar mais. O coração se apronta para não se ferir e deixar-se enganar outra vez.

O ponto central desta mensagem é: Jesus Cristo Ressuscitou! E nós precisamos acreditar nisto e nas implicações a que esta frase nos leva. Se Jesus Cristo realmente ressuscitou, ainda há o que sonhar. Dá tempo! Se Cristo ressuscitou dentro os mortos e ele está em seu coração, não importa quais são as suas limitações: Sim! Você pode! Nós podemos! Se Cristo ressuscitou, a corrupção que permeia os sistemas políticos e religiosos tem cura! Este mesmo sistema que tentou matar a Cristo não venceu! Jesus Cristo ressuscitou e poderia ter subido ao Pai diretamente. Mas ele mostrou-se aos seus discípulos para dar-lhes esperança! Para reacender em seus corações a chama de mudança.

Em quais momentos da sua história você escreveu um ponto final? Quais são os seus projetos pessoais que estão estagnados? O seu sonho de mudar o mundo se foi? Passe uma borracha agora neste ponto final.

Nós estamos no período da quaresma. Momento que relembra os últimos passos de Jesus sobre a terra até sua morte. Momento de esperança no qual nos privamos da palavra “Aleluia”, durante este período, para que no dia da páscoa, quando celebramos a ressurreição do nosso redentor, possamos gritar bem alto e forte: Aleluia! O meu Redentor vive! E ele vivem em você para te dar a esperança necessária para continuar a sua história sem mais pontos finais.