quarta-feira, 11 de março de 2009

Entendedo I Cor. 11


Para entender o que está escrito no capítulo onze da primeira carta aos Coríntios, é preciso primeiro entender que a Santa Ceia, naquele tempo, acontecia de forma diferente. Aos domingos, os cristãos da Igreja primitiva reuniam-se em volta da mesa e o cerimonial da ceia envolvia, além do pão e do vinho (símbolos do sacrifício de Cristo), uma mesa farta onde todos poderiam saciar-se, independente de qualquer fator.

O capítulo onze trata de uma admoestação paulina a respeito da ceia, pois ao que parece, os Corintianos não estavam procedendo da forma correta.

Os problemas.

A mesa tinha perdido sua dimensão integradora! (v. 20, 21)
O combinado era que cada um trouxesse, conforme as suas possibilidades, os alimentos que comporiam a mesa. Mesmo isso acontecendo, alguns "furavam a fila", e sem esperar uns pelos outros, fartavam-se ficando outros da comunidade com fome. A mesa, que tinha a missão de ajudar aos que tinham fome; de tornar todos iguais no partilhar do pão; estava agora acentuando as diferenças! Esse problema para Paulo era tão grave que ele chega ao ponto de dizer que o que os corintianos estavam celebrando "não é a ceia do Senhor".

Ao perder seu caráter integrador, a mesa tornou-se banal (v 22-26). Paulo questiona os irmãos se estes não tem casa para que bebam (v.22). O entendimento que esta pergunta retórica nos dá é que a celebração eucarística, na visão de Paulo, tornou-se um evento de "comida fácil" na igreja em Corinto. Perdeu-se o sentido da comunhão - tão caro para aqueles dias - pois cada um comia a parte que lhe cabia sem pensar no irmão necessitado ("aqueles que nada tem"). Com isso, ao que nada tem, a mesa tornou-se motivo de vergonha. Vergonha de não ter. Isso foi motivo de vergonha para os Corintianos. Paulo não os louva por isso.

Para tentar concertar esta situação lastimável, Paulo evoca a sagrada "Última Ceia", reintroduzindo o conhecido por ele recebido a respeito dos momentos finais da Ceia do Senhor. Esta memória torna-se célebre pois na maioria das Igrejas Cristãs de hoje é a base para a celebração eucarística. E a base de muita confusão também.

Os versículos 27, 28 e 29 são utilizados, na maior parte das vezes, fora do contexto apresentado até aqui. O que, infelizmente, tem causado muita confusão no meio do povo de Deus. Até o cerceamento da participação da ceia do Senhor. Por isso, permita-me, em nome de Deus, esclarecer as três principais idéias deste texto:

1) - Indignidade
Que indignade é essa a que Paulo se refere? Seriam pecados ocultos? Aqueles pecados que nem eu nem você ousamos assumir, mas que Deus tem plena certeza que cometemos? Sou levado a crêr que não. Paulo até aqui tem falado da maneira de se portar durante a Ceia do Senhor e atacando duramente aqueles que se portam sem dignidade para com a Ceia do Senhor. O único pecado que Paulo tem aborado neste texto é o pecado do egoísmo. Quando eu procuro atender somente as minhas necessidades sem me preocupar com o meu irmão.

2) - Examinar-se.
É o líder? É o apóstolo? É o pastor que deve exarminar quem quer participar da Ceia do Senhor? De maneira alguma! A Bíblia deixa claro que deve ser feito o auto-exame. A pessoa é que deve olhar para o espelho e reconhecer-se pecador e seus pecados.
A propósito. Quem entre nós seria capaz de dizer-se sem pecados? Desde o momento em que confessamos os nossos pecados até este momento, será que não cometemos pecado algum?
Ao fazer o auto-exame devemos lançar os nossos pecados nas mãos de Cristo. Independente de quantos eles sejam! Reconhecendo assim que só ele é capaz de perdoar nossos pecados.
Um detalhe importantíssimo sobre o texto: Em momento algum ele impõe restrições sobre a participação na ceia. Pelo contrário! O que diz o texto é: "Examine-se o homem a si mesmo e então coma do pão e beba do cálice". O corpo de Cristo, na ação da graça, é que nos purifica de nossos pecados. O Corpo de Cristo é o que nos dá força e nos motiva a vencer o pecado em todas suas instâncias. Onde abundou o pecado, superabundou a graça. É o que diz a Palavra de Deus!

3) - Discenir o corpo
Ao dizer que os que comem indignamente o fazer por não discernir o "Corpo de Cristo", Paulo deixa claro que ele está se referindo a banalização da ceia. Os corintianos aproximavam-se com tanta voracidade a ceia que, além de não esperar pelos outros, ainda não discerniam o que era parte da mesa Eucarística do que era a ceia do amor.

E os quanto aos fracos e doentes? (v. 30)
Existe sempre a tendência de "espiritualizar" as leituras bíblicas. Sendo que o ideal é que, considerado o contexto, compreenda-se se o autor está escrevendo de coisas naturais ou espirituais. E neste texto, certamente Paulo fala de coisas corriqueiras. Dessa forma, nada mais justo do que compreender que ao referir-se aos fracos e doentes e até alguns que "dormem", Paulo está falando daqueles que encontravam na Eucaristia a força para sua fé e na ceia a força para seu corpo humano. A ceia provavelmente seria a única refeição descente durante toda a semana. A que ponto chega o egoísmo humano?

O que isso tem conosco?

Hoje talvez nós não celebremos a ceia como os Corintianos da época de Paulo. Mas será que com as coisas de Deus não temos sido gananciosos e arrogantes? Será que não temos guardado só para nós a dádiva de participar da mesa do Senhor, não convidando as pessoas do mundo para que se acheguem a nós?

Será que a mesa do Senhor não está banalizada ao ponto de que o tempo que passo na Igreja seja um momento de pura introspecção onde fico apenas eu e Deus enquanto que o real sentido da Igreja é a comunhão?

Ao nos examinarmos, o fazemos com austeridade ou mentimos para nós mesmos os nossos pecados de omissão? Será que recorremos a Cristo para que ele nos perdoe ou já deixamos cauterizar a ferida do pecado de modo que ela não dói mais no espírito?

Como Igreja que somos, temos cuidado daqueles entre nós que estão fracos e doentes – seja material ou Espiritualmente?

Por fim, quero lembrar que o principal desafio da Ceia é: Anunciar a morte do Senhor – sua ação redentora na cruz – até o dia em que ele chegar em glória nos céus.

Sejamos levados a aceitar este desafio. E assim, merecer o nome "Cristão"


Coragem, irmão! Coragem!

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