
"Abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram, e ele desapareceu-lhes.Lucas 24. 31
Leia: Lucas 24. 13-33
A de hoje não é de exortação (ânimo) ou de correção. Gostaria compartilhar com você o entendimento que tenho da linda passagem sobre o Caminho de Emaús. Desta forma, espero oferecer subsídios para que você mesmo faça a sua própria reflexão pastoral sobre o assunto.
Em primeiro lugar, para melhor entendimento, quero colocar algumas informações que nos ajudarão a compreender a profundidade deste texto.
Jerusalém era o centro da fé e do governo para os Judeus. Nesta cidade estava o trono de YHWH a partir de onde ele governava a Terra. Apesar de a cidade estar assolada pela dominação romana, havia uma chama de Esperança de que um dia, quando o povo se arrepender dos seus pecados, YHWH mandaria o seu messias para reclamar o trono de Davi e governar com cetro forte.
Mesmo que muitas igrejas hoje “forcem” o amor a Jerusalém, esse símbolo pode parecer distante para nós. Portanto pensemos em como um retirante nordestino enxerga a capital São Paulo. Para o retirante, que viu sua terra ser tomada pela seca; sua vaquinha ficar apenas “couro e osso”; que teve sua vida marcada por assassinatos e injustiças por partes dos “ainda hoje” coronéis, a palavra São Paulo tem o mesmo valor que Esperança, Justiça, Paz e Prosperidade.
Eles descem de Jerusalém para Emaús com o coração pesado. A morte de Jesus foi um grande baque para todos os discípulos, pois eles acreditavam que Jesus seria de fato o messias (político) que livraria o povo de Israel das mãos dos Romanos. A salvação não aconteceu e Jesus Cristo era somente mais um dos muitos auto-intitulados “Messias” que pregavam pelas cidades da Judéia e da Samaria. Era mais um Jeremias que pregou a Palavra do Senhor e que não foi ouvido.
No meio de sua conversa, aparece um homem desconhecido que se interessa pelos dois caminhantes. Jesus – este desconhecido – embora saiba o que está acontecendo, curiosamente pergunta aos dois sobre o que eles estavam falando. Aqui está uma referência ao cerimonial da páscoa contido em Êxodo 12. 26 quando a criança deveria perguntar aos seus pais “que cerimonial é este”. Sem perceber, estes três caminhantes iniciam um culto pascal.
Nesta cerimônia improvisada, Jesus Cristo propõe uma linha hermenêutica diferente. Ele – como era costume no dia da páscoa – relembrou aos dois discípulos o que estava contido na Lei e nos Profetas com uma pequena diferença: O entendimento seria à luz da ressurreição.
Aos poucos a noite cai e é hora de acampar. Jesus faz que vai embora, mas os dois rapazes ficaram tão interessados no que este forasteiro – que mesmo sendo forasteiro conhecia tão bem as Escrituras – tinha a dizer que insistiram para que ele ficasse mais um pouco. Ouvir o que as coisas estranhas que esse estranho dizia era muito bom!
Cansado da longa viagem o corpo pede comida. E aqui é o momento para mais uma explanação. A mesa para os Judeus era sagrada. Sentar-se a mesa para comer juntos demandava muita intimidade; era um privilégio cedido a poucos. Por isso as referências a mesa são tão importantes na Bíblia. Na intimidade da mesa, as palavras de Jesus penetram mais profundamente e Ele conhece as pessoas com quem está se relacionando. Repartir a mesa é repartir a vida, é comer o mesmo pão que sustenta o nosso irmão.
Mas como eu dizia, o corpo dos viajantes pediu comida e assim o fizeram. Prepararam uma mesa simples e ainda ofereceram aos forasteiros a honra de servir o pão. Neste momento algo mágico acontece. Tem algo de diferente neste partir do pão. Não é possível! É Jesus! Ele está entre nós! E então Cristo desaparece.
No mesmo instante em que os discípulos reconheceram a Jesus, seus corações são invadidos de grande felicidade. A Esperança que estava morta havia ressuscitado dentre os mortos e o entendimento que o foraste... quer dizer, Jesus havia dito fez sentido. Esta tamanha alegria fez com que os discípulos não ligassem se era noite ou se Jerusalém estava a 11 km de distância. Na mesma hora levantaram acampamento e voltaram para Jerusalém a fim de anunciar a nova: Jesus está vivo. A Esperança de Israel está viva.
Será que nosso encontro com Cristo nos tem levado a reconhecer a necessidade de anunciar ao mundo o seu projeto de Reino? Ou ainda, será que na mesa que compartilhamos todos os dias com nossa família e nossos irmãos, temos reconhecido a Jesus Cristo? Uma coisa leva a outra, esta é a grande verdade.
Que busquemos reconhecer a Cristo nas pequenas coisas do nosso dia-a-dia e que este encontro nos impulsione sempre a anunciar o retorno de nossa Esperança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário