sábado, 31 de outubro de 2009

Conhecendo a Fé


Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito:
Mas o justo viverá da fé.
Romanos 1. 17

Há muito tempo andou sobre a terra um homem que “conheceu”. Seu nome era Lutero. Martinho Lutero. Por ter “conhecido”, ele não tornou-se um homem santo. Ele condenou muita gente à morte; teve a língua mais ácida que já conheci, aliou-se (inevitavelmente talvez) ao um principado explorador. Enfim, foi um homem de muitos pecados. E talvez por isso ele seja o mais interessante deles.


No medo, ele conheceu o seu Pecado.

Não era fácil viver no início de 1500, porque o mundo daquela época era muito diferente do que é hoje. Se no presente nós sonhamos com a ascensão social, no passado a pobreza era algo imposto por Deus e era impossível fugir desse tormento. De tal modo que a única esperança de vida feliz apontava para o paraíso. Lutero sabia disso e contrariando seu pai, ele decidiu não fazer Direito e optou pela vida monástica. No mosteiro em Erfurt, Lutero passava oras refletindo sobre a Bíblia, orando por almas, se auto-fragelando. Dessa forma ele pensava que agradava a Deus e conseguia o perdão dos seus pecados. No entanto, para cada chibatada, Lutero recordava-se de mais um pecado e novamente voltava aos grilhões do fragelo. Um a um, os seus pecados, ele conheceu.


No zelo, ele conheceu a Fé

Por mais que o sangue escorresse pelo seu corpo, Lutero não sentia os seus pecados perdoados. O Superior do Monastério, Staupitz, é quem o incentiva a estudar. Assim Lutero inicia sua caminhada na Graça. É Wittenberg ele lê esta mesma carta de Paulo que lemos hoje. E finalmente compreende que “o justo viverá pela fé”. Não se segue a lei de Deus apenas através das obras. Não adianta você se negar a fazer algo errado se o seu coração o deseja ardentemente. Por isso o ser humano é incapaz de, através das suas forças, alcançar o perdão divino. É através da sua fé em Deus que ele encontra refúgio e descanso certo para sua alma.


Com a verdadeira fé, ele conhece a Graça.

Então não as chibatadas deixam de fazer sentido! Se somente através da fé é possível agradar a Deus! Mas como nasce essa fé? De onde vem a confiança no amor de Deus? Como ser alvo deste amor? Somente através da Graça que é de graça. Um presente de Deus para os seus filhos e filhas. O único de acreditar – ter fé – realmente no que dizem as sagradas escrituras em cada palavra. Não é por merecimento, não é por causa do que temos ou que somos. Do pior ao melhor, todos são alvos da graça de Deus. Lutero conheceu a bela dama do Senhor: Graça.


E nós? O que conhecemos hoje?

Vejo assustado como temos regredido na nossa fé em Deus. Vejo muitos cristãos trocando as horas de meditação solitária na Palavra de Deus, por alguns minutos em frente ao aparelho de TV, bebendo o fel que verte da boca de muitos pregadores e pregadoras da mídia. Vejo muitos cristãos trocando o isolamento de uma cela monástica pela anulação da sua individualidade na multidão histérica das mega-igrejas. Tenho observado de perto muitos cristão que estão transformando os dízimos, as ofertas, a presença na Casa do Senhor (em forma das mais esdrúxula campanhas) nas chibatadas que Lutero arremetia contra si. Aos poucos a Igreja dita “reformada” tem regressado ao Catolicismo Medieval, numa espécie de humanismo às avessas.


Igreja reformada, sempre se reformando.

Essa é uma máxima de Lutero e que serve para nós até hoje. A Igreja de Cristo precisa urgentemente passar por reformas. A começar pelas compreensões de fé e de espiritualidade. A primeira é gratuita e não necessita de apoio. Aquele ou aquela que verdadeiramente crê no Senhor não precisa de copos d’água o de unções fora de propósito obter a salvação (seja da sua alma ou do seu corpo). A compreensão puramente mística e sobrenaturalista da espiritualidade também deve ser ultrapassada. O cristão deste século precisa rever suas formas de espiritualidade, englobando o Reino de Deus do Já, do Agora! Uma espiritualidade que faz obras, porque tem fé. Uma espiritualidade social, que salva a todos e a si. Todas frutos de uma fé genuína em Cristo Jesus. Fé esta que vem de graça!

Que neste dia 31 de outubro, dia oficial da Reforma Protestante, possamos refletir sobre como temos vivido a nossa fé e como a temos conhecido.


Que Deus nos encoraje!

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