sábado, 31 de outubro de 2009

Confiar na Ressurreição do corpo


Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido

João 11. 21

O livro de João é um livro fantástico. Enquanto os demais evangelistas se preocuparam em mostrar a vida de Jesus, em comprovar a sua descendência de Davi (o caso de Mateus), em demonstrar os seus milagres, o livro de João segue por caminho diferente. É como se João não estivesse interessado mesmo na vida de Jesus – afinal toda biografia começa pelo dia do nascimento, mesmo no século I – ou o seu grande poder sobrenatural (são citados apenas setes sinais) mas sim no que a vida e morte de Jesus significaram e significam para nós.

O sétimo e último sinal que Jesus produz no livro de João é este que vamos conhecer hoje, se você já não conhece: A ressurreição de Lázaro.

A história começa com um pedido de socorro. Chega até Jesus a notícia de que Lázaro fora acometido de alguma doença grave. Jesus então inicia um discurso sobre vida e morte, comparando a morte como apenas um sono, uma necessidade da vida humana. E apesar de colocar sua vida em risco, Jesus se dispõe a voltar a Judéia para ver o seu amigo doente. E Tomé dispõe-se à morte para acompanhar Jesus Cristo.

A primeira compreensão que o evangelho de João nos propõe é o amor que Jesus tem pelos seus amigos e a disposição que os seus discípulos têm de acompanhá-lo. É bem provável que ele estivesse na Peréia – o outro lado do Jordão – lugar relativamente seguro onde sua vida ainda não corria perigo tão iminente. Enquanto Betânia ficava a apenas três quilômetros de Jerusalém, centro do poder romano e judaico que o procuravam matar. Como Lázaro era homem de posses, é bem provável que vários judeus estariam na casa de suas irmãs para chorar com elas. Visitar a vila das irmãs Marta e Maria seria, portanto, assinar a própria sentença de morte. O primeiro desafio que nos é proposto é: Seríamos capazes de colocar nossa própria vida em risco por causa de um amigo?

Quando chega em Betânia, a primeira pessoa com quem fala é Marta. Ela parece muito conformada com toda a situação e prefere não acreditar que Jesus seria capaz de ressuscitar o seu irmão. Naquele momento ela aprende algo que nós devemos aprender também: As promessas referentes ao Reino de Deus não se limitam ao fim de todas as coisas. Elas também estão reservadas para o agora. A demonstração de poder sobre a morte não é apenas um show de mágica ou uma demonstração barata de poder, mas aponta a certeza de que somos capazes também de ressuscitar da morte para a vida ainda hoje.

Maria é a que parece estar mais desalentada. Ela é o retrato da desesperança, pois ela e todos os que a acompanhavam estavam com os olhos em lágrimas e ela, diferente de Marta, não conta sequer com a ressurreição do último dia. Jesus então chora. Não sabemos se por causa da falta de fé das pessoas, ou se estava indignado com o poder que a morte tinha sobre o povo ou se simplesmente chorava pelo amigo que se foi. Diante dessa reação de Jesus os homens se apressam em julgá-lo: Alguns se comovem com o sentimento de Jesus. Outros questionam sua atitude. Afinal, se ele curou a cegos, porque não curaria o seu amigo da doença?

Não quero julgar os méritos de a vida ou a morte são ordenanças de Deus. Mas chamo a atenção para a surpresa que os acontecimentos nos trazem. Curar Lázaro é o que todos esperavam de Jesus. E como as coisas não aconteceram conforme a vontade deles, a culpa é jogada toda em Jesus. Será que não somos assim também? Em nossas orações, ou pelo menos nas nossas expectativas, esperamos que a ação de Deus se dê conforme a nossa vontade. O “cristianismo” pregado hoje nos aprisiona na imaturidade da fé e nos faz acreditar que se orarmos bastante (e orar é fazer birra), nosso paizinho celestial nos atenderá conforme a nossa vontade. Mas essa não é a verdade. Nós conhecemos apenas parte da nossa história: O que passou e o que está acontecendo. Deus, entretanto é o Senhor do Tempo e conhece, de antemão, todos os passos que ainda daremos. A fé que Marta tem e que Maria parece não ter é de que Jesus sabe o que faz e tudo o que ele faz pode resultar num bem maior do que o esperado.

Jesus se dirige ao túmulo. Ele sozinho não agüentaria tirar a pedra, então pedem para que façam isso por ele. Aqui Marta a fé de Marta vacila. No nosso dia-a-dia somos convocados a tomar atitudes que contribuam para a nossa ressurreição e a ressurreição do próximo. Atitudes que às vezes vão contra ao que pensamos ser o correto o que não conseguimos vislumbrar o seu final. Marta não percebeu que tirar a pedra seria o primeiro passo para a ressurreição de Lázaro, assim como não percebemos que assumir determinada posição na Igreja, que assumir determinada posição no mundo é o primeiro passo para uma novidade de vida e de fé. Jesus diz: Se creres verá a Glória de Deus. Eu repito: Se crermos iremos ver a Glória de Deus!

Lázaro sai para fora! É o grito que se ouve naquele lugar de morte. E com passos trôpegos e cegado pela luz, vem saindo de dentro do túmulo uma múmia cheia de amarras.

Quando nosso entendimento se abre para compreender a nova do evangelho, ouvimos o chamado de Cristo: “Sai para fora!” Pode parecer confuso a princípio. Não sabemos o que fazer ou para onde ir. Devido a escuridão, sequer sabemos onde pisamos. Sem contar as amarras da morte que continuam atadas em nosso corpo e que querem nos manter dentro do sepulcro. Sai para fora é o chamado, é a vocação que Cristo faz a nós. Na dúvida, basta seguir a sua voz. Ele não está nos esperando num templo, ou num monastério, ou em qualquer outro lugar fechado: Ele está nos esperando lá fora! Onde há luz e espaço para que caminhemos sem empecilho algum.

Os desafios que este texto nos propõe são muitos, porém o mais importante deles é o de crer na ressurreição dos corpos que morrem todos os dias. Crer na ressurreição do mundo que começa agora e termina no fim da história. E principalmente, crer que somos portadores deste fôlego de vida que há de reviver o mundo ao nosso redor.


Que Deus nos abençoe.


Img: http://www.ecclesia.com.br/images/icones/festas/ressurreicao_de_lazaro4_med.jpg

Nenhum comentário: