domingo, 6 de março de 2011

A ressureição de Pedro

Leia: Mateus 17.1-9
Nesta noite feliz / Neste santo lugar
Eu marquei um encontro com Deus

Seu amor é real / Sua paz gozarei
Eu marquei um encontro com Deus

Eu marquei um encontro com Deus
Neste santo lugar de oração

Seu amor é real / Sua paz gozarei
Eu marquei um encontro com Deus
Um dia desses eu me peguei cantando essa música que remonta a minha infância lá em Franca. Virou-mexeu, o Ir. Valdir fazia um solo com esta canção. Hoje ela se faz muito apropriada porque vamos falar muito de Encontro. Não um encontro qualquer, como quando se vai ao mercado e praticamente tropeça em algum amigo ou vizinho. Trata-se de um encontro especial. Um encontro com Deus.

Há muito para se dizer a respeito desta passagem. Os seis dias, período de toda uma [nova] criação; as semelhanças com o relato da subida de Moisés ao monte Sinai; a presença de Elias e do próprio Moisés no monte da transfiguração, representando os profetas e a lei respectivamente... Mas o tempo é curto. E é impossível falar de tudo isso. Por este motivo, na prédica de hoje, quero chamar a atenção para a experiência vivida por Pedro, e pelos discípulos, e a transformação decorrente desta mesma experiência.

Comecemos pelo encontro.
Os discípulos – entre eles Pedro – sobem o monte. E de repente, o que seria mais um momento de oração, transforma-se em uma experiência extática. Os discípulos ficam espiritualmente extasiados ao verem, na sua frente, Moisés – o libertador do povo de Israel – e Elias – o primeiro entre os profetas. A sensação pela qual eles são tomados é sem igual; tão ímpar que qualquer comparação seria mundana demais. A proposta de Pedro – de criar tendas para estas três brilhantes pessoas – pode ser interpretada de diversas formas. Seria uma tentativa de aprisionar aquela experiência só para si; ou seria uma forma de prolongar ao máximo possível todo aquele bem que ele estava sentindo, construindo tendas/casas para os visitantes; ou, por fim, uma referência à festa dos tabernáculos: uma tentativa de institucionalizar a experiência que ele teve com Deus.

Independente de qual das três interpretações que você dê à proposta de Pedro, em todas elas ele está tentando manipular o imanipulável; tornar imanente o que é transcendente; tornar racional o que ultrapassa os limites da razão. E assim também fazemos nós. A nossa caminhada de vida e fé está marcada por momentos de Epifania, quando percebemos no mais íntimo do nosso ser que Jesus é o Cristo e que ele caminha conosco. E assim como Pedro, tentamos aprisionar Deus dentro de uma caixinha pequena. E o que é pior: queremos que a nossa experiência particular torne-se o padrão para as nossas irmãs e os nossos irmãos, desfazendo da experiência do outro.  Ah, a Igreja tal é assim porque é carismática. Ah, Fulano de tal é assado porque é tradicional... E no meio desta disputa entre quem detém a “experiência particular correta”, o povo de Deus está se dividindo.

As experiências de fé, frutos de um encontro com Deus, são particulares porque tratam do MEU encontro com Deus. É a forma que o Todo poderoso, sabedor de todas as minhas limitações, conceitos e preconceitos, encontrou para falar comigo. Não para o outro, mas comigo! Por isso, quem somos nós para dizer que esta ou aquela expressão de espiritualidade é ou não de Deus? Com que base julgamos? O desafio cristão frente as diferentes manifestações da Graça de Deus está em manter a Igreja como um local onde todos são bem vindos e onde nunca se está sozinho. O desafio é de baixar um pouquinho a “nossa bola” e ser longânime com a pessoa que ainda não é suficientemente madura para entender que a vida cristã é feita de fé em fé, de encontro em encontro com Deus, ocasiões onde sempre ressuscitamos.

Ressuscitamos?! Como assim?
O Pedro que subiu ao monte era alguém que estava muito certo das suas opiniões. É o Pedro que alguns versículos atrás achou-se no direito de repreender Jesus por causa da idéia – para ele estapafúrdia – de ir para Jerusalém e ser assassinado em uma cruz. É o Pedro que diante de Jesus glorificado, de Moisés e de Elias só é capaz de pensar em construir tendas. Mas quando a sombra da nuvem o cobre e ele é interrompido pela voz de Deus, Pedro e os discípulos caem por terra e levantados por Jesus, eles ressuscitam (o verbo grego, que no texto é traduzido por “levantai-vos”, é o mesmo utilizado para indicar a ressurreição) novos homens. Alguns versículos adiante (22-23) quando Jesus novamente prediz o seu assassinato, mesmo ficando tristes com a notícia, nem os discípulos e nem Pedro corrigem Jesus novamente.

Algumas pessoas esperam “sentir” no culto. Sentir um frio na espinha, sentir vontade de sorrir, de chorar... Sentir o coração estranhamente aquecido... E sentir é bom! Foi através dos sentidos da visão e da audição que os discípulos receberam aquela experiência. Mas é só para isso que serve a experiência com Deus? É para nos emocionar que invocamos a presença do Altíssimo todo domingo?

As experiências de vida são importantes na medida em que elas nos definem. Hoje não sou o mesmo de ontem e amanhã não serei o mesmo de hoje – isto até mesmo no nível celular. Da mesma forma é a nossa experiência de fé. Quando nos encontramos de verdade com Deus, e assim como Pedro, nos calamos para ouvir sua voz, a velha humanidade morre para ressuscitar uma nova criatura; caem por terra os nossos preconceitos, nossa permissividade e omissão, o nosso egoísmo e ressuscitam novos valores: os valores do Reino de Deus, anunciados no sermão da montanha.

Concluindo...
É bom saber que Deus se manifesta a nós de forma particular e pessoal a fim de nos transformar. Mas como saber se determinada experiência foi ou não um legítimo encontro com Deus? Quando voltamos para casa. Quando abrimos os olhos e Jesus volta a ter os pés imundos e a roupas rotas. É no dia a dia, quando as sensações se transformam em lembranças, que descobrimos se esse encontro está nos transformando a cada dia. Não podemos assumir que estamos prontos, mas em constante mudança. De encontro em encontro –marcado ou não – com Deus é que nós ressuscitamos com Cristo. E é na ressurreição da mente que o nosso mundo ressuscita com a gente.

Que Deus nos ajude a Experimentar, a ouvir em silêncio e a ressuscitar uma nova criação!

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