terça-feira, 8 de junho de 2010

A mulher desconhecida


(Avaliação do curso de Homilética — 07.06.00)
Francisco Thiago de Almeida
Introdução:
Texto: Lucas 7.36-8.3
Assunto: Superação da opressão.
Tema: Como Empatia, amor e perdão podem ser instrumentos de libertação
Exórdio: Os livros de história contêm vários nomes de homens e mulheres que lutaram para tornar o mundo em um lugar melhor. Tiradentes, Joana D'Arc, Nelson Mandela, entre tantos. Mas muitos são os que não tiveram suas vidas perpetuadas pela história, mas que igualmente doaram sua vida pela causa da liberdade. Em homenagem a esses homens e mulheres sem rostos e sem nomes, alguns países erigiram túmulos e memoriais ao "Soldado Desconhecido". No Brasil este túmulo fica no Monumento Nacional aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro.
Explicação: O texto que lemos, conta a história de duas personagens de difícil identificação. Alguns comentaristas alegam que este texto seja o mesmo encontrado em João 12, que identifica a mulher da história como Maria Madalena. Mas a diferença entre as personagens e a história é tão grande que somos levados a acreditar que se trata de textos totalmente distintos.
A primeira personagem é Simão. Ele é identificado em Mateus e Marcos como um ex-leproso. Por outro lado, em Lucas, ele é apresentado como um fariseu. Na perícope, Simão convida Jesus para participar de sua mesa. Em primeira instância, esta parece ser uma atitude louvável de Simão, uma vez que no tempo do império romano, somente pessoas de mesma classe social podiam partilhar da mesa. Desta forma ele estaria se igualando a Jesus Cristo. Com o prosseguimento da narrativa percebe-se que, na verdade, Simão estava mais interessado em testar Jesus – para saber, talvez, se de fato ele era digno de participar de sua mesa – do que lhe ser ao menos educado.
A segunda personagem é difícil de nomear, e por isso ela entra para a história como sendo a "Mulher desconhecida". As informações que o texto dá sobre ela são poucas. O que sabemos é que ela tinha má fama, tinha cabelos compridos e tinha dinheiro suficiente para comprar um perfume embalado em alabastro, que custava algo em torno de 300 denários ou trezentos dias de trabalho. E que foi ousada o suficiente para entrar na casa de um fariseu, soltar seus cabelos na frente de um Rabino e expressar os seus mais profundos e sinceros sentimentos. Talvez ela não fizesse idéia que a sua atitude ousada pudesse ensinar um ou dois conceitos para o fariseu Simão e provocar mudanças na ordem social.
Proposição: Vejamos que conceitos e mudanças foram esses:
Palavra chave: Conceitos; mudanças – Interrogante: Quais?
Desenvolvimento:
Transição: O primeiro conceito foi o da...





  1. Empatia:
    1. Passado: Como a casa de Simão fosse aberta, várias pessoas estavam reunidas para acompanhar a conversa. Entre elas a "Mulher Desconhecida". Ela se aproxima de Jesus pelas costas e se lança aos pés dele, lavando-os com suas lágrimas, enxugando-os com seus cabelos e perfumando-os com o caro perfume do pote de alabastro. Escandalizado, com um só olhar Simão julgou a Mulher Desconhecida e também a Jesus. A mulher pela sua fama de "pecadora" e Jesus por não ter, aparentemente, adivinhado isso. Sem demora, Jesus propõe uma parábola-armadilha, de moral óbvia, e nela encarna tanto Simão quanto a Mulher Desconhecida.
    2. Presente: Somos semelhantes a este fariseu muitas vezes. Apoiados em pré-conceitos ligados a moda, vocabulário, cor de pele e classe social, ficamos escandalizados/as, e com um olhar ligeiro julgamos e sentenciamos uma pessoa e suas atitudes. E quando vemos o próximo tendo uma reação diferente da nossa, ou relacionando-se com pessoas que julgamos "impróprias", também o condenamos.
    3. Futuro: O que Jesus propõe é algo diferente. Ao encarnar na parábola tanto fariseu quanto a Mulher Desconhecida, ele ensina o conceito de empatia que, segundo o dicionário, é uma "Forma de identificação intelectual ou afetiva de um sujeito com uma pessoa, uma idéia ou uma coisa" (dicionário eletrônico Priberam). Quando somos mais empáticos e menos preconceituosos, somos capazes de construir um julgamento mais justo, que nos permite reconhecer as nossas faltas, ainda que a união com a sociedade demoníaca seja tão grande que nossos olhos estejam embotados.
Transição: Mas além da Empatia, a atitude da Mulher Desconhecida ensina sobre um segundo conceito:




  1. A união entre amor e perdão.
    1. Passado: De forma muito cortês, ao ser perguntado quem mais amaria ao credor da parábola, o anfitrião responde: Acho que é aquele a quem ele perdoou mais. Aqui Jesus estabelece uma relação muito forte entre amor (ágape) e perdão. A resposta da parábola deixa evidente que o amor do devedor pelo seu Credor é proporcional ao tamanho da dívida paga (cf. v.43). Por outro lado, é justamente por muito amar que a dívida foi perdoada(cf. v. 47). A idéia que o texto dá é que a relação entre amor e perdão é tal qual um círculo vicioso. Pedimos perdão na medida em que amamos e amamos mais na medida em que somos perdoados.
    2. Presente: Da mesma forma acontece conosco. Quando ofendemos alguém querido, é o amor que sentimos que nos motiva a reparar o dano causado. O perdão de volta, em casos onde a ofensa não põe fim a todo sentimento, é uma das maiores manifestações de afeto. É como um beijo apaixonado. É uma declara-ação de amor.
    3. Futuro: Desta forma o texto nos convida a amar mais perdoando mais. A amar mais a Deus, reconhecendo as nossas ofensas e rogando o seu perdão. A amar mais a Deus oferecendo perdão quando também estamos na condição de credores. A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor. (cf. Romanos 13. 8a)
Transição: Mas a história não acaba aqui.




  1. Outras mulheres seguem o exemplo da Mulher Desconhecida!
    1. Passado: Mesmo contrariando o costume judaico, mulheres passam a seguir Jesus. Essas mulheres, geralmente, sofriam o duplo estigma de serem mulheres e impuras – seja por pecado, seja por doença. Mas no seguimento de Jesus, elas experimentam a liberdade plena! Maria Madalena foi uma que experimentou total libertação das forças que a dominavam (porque o número 7 [sete] significa a plenitude). Já aquelas que talvez não pudessem seguir Jesus por todos os cantos, anunciando a boa notícia, ajudavam a missão com as suas posses.
    2. Presente: Ainda hoje são essas as pessoas que continuam pisando nas pegadas de Cristo. Pessoas estigmatizadas pela sociedade, que vivem às margens, em condições inferiores a de penúria. E que nessas pisaduras encontram a libertação do seu fôlego de vida, da sua mente e do seu corpo.
Transição: Concluindo
Peroração

Assim como tantas pessoas incógnitas contribuíram para transformação do mundo, a nossa Mulher Desconhecida fez o seu papel. Em uma atitude totalmente espontânea, fruto de um real sentimento de gratidão, essa mulher conseguiu ensinar para Simão, o fariseu, o significado de amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo, ao relacionar amor, perdão e empatia.
Mesmo que os nossos nomes e fotos entrem para os anais da história, que possamos ser como esta Mulher Incógnita: Mesmo sem ter um rosto, abriu caminho para que outros pudessem ter o que ela não teve: Identidade e dignidade.
Que Deus nos ajude.

3º Domingo depois de Pentecostes (Ano C)

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