sábado, 9 de abril de 2011

O Homem Sem Nome


Leia João 9
Com certeza você já assistiu a filmes de cinema. Locações belíssimas e igualmente caras; atores e atrizes famosos, ganhadores do Oscar... Mas você já teria assistido a um filme onde a personagem principal não teria nome? Eu já! Um filme de faroeste que vi com meu avô. O ator era Clint Eastwood no filme “O estranho sem nome” (High Plains Drifter) que interpretava exatamente um pistoleiro forasteiro ao qual ninguém na cidade sabia o nome e que prometeu salvar a cidade de três mercenários.
Voltando para o texto que lemos, eu pergunto: sobre quem é a história de hoje? Se você pensou "sobre Jesus", está enganado. O texto que lemos hoje conta a história do Homem Sem Nome – e por isso me lembrei do Clint Eastwood. Não estamos falando de uma história comum: Estamos falando de um dos maiores relatos de cura contados no Novo Testamento com detalhes curiosos: Além de não se saber quem é o cego, alvo da ação de Jesus, também não se sabe onde este milagre aconteceu. “Jesus estava passando” é a única informação que o texto nos dá. E o mais curioso é que Jesus assume um papel de “ator secundário” aparecendo somente no início e no final do texto como quem está assistindo tudo acontecer.

Desta história tão incomum, eu gostaria de chamar a atenção para apenas dois importantes assuntos abordados por ela.

O primeiro assunto que o texto trata é sobre sinais de verdade:
Jesus emprega uma formula de milagre completamente diferente da habitual: Ele cospe no chão e faz barro. O líquido da vida, misturado a terra mãe produz ao criador a massa necessária para modelar a nova criação: o barro. E é usando o barro e a água que Jesus cura a visão do Homem Sem Nome. Caminhando alguns versículos, percebemos que sequer a vizinhança reconhece o nosso astro indigente. Alguns dizem que “ele até se parece com o antigo cego, mas não é ele”. Como ele poderia ter mudado tanto, se Jesus tão somente lhe devolveu a vista e lhe aconselhou um banho?

Sempre diante do miraculoso, nossos olhos ficam ofuscados pelo sobrenatural. Quando permitimos que isso aconteça, somos privados de contemplar o que o sinal realmente quer apontar. No texto que lemos, Jesus não cura o cego com palavras abstratas. Ele usa elementos naturais/materiais. Ele faz uma ação além da palavra. E quando Jesus usa de meios naturais/materiais, a mudança na vida do “astro indigente” é tão grande que sequer os seus vizinhos o reconhecem. Com o barro da nova criação, Jesus não somente cura-lhe os olhos, mas reconstrói-lhe a vida.

Esta atitude de Jesus nos provoca a fazer o mesmo: Continuar com as nossas orações, pedindo a Deus pelos oprimidos que necessitam de libertação. E sobre tudo, usar de meios naturais/materiais ao evangelizar; usar daquilo que nós temos à mão e que faz parte da nossa vida para, com a ajuda de Cristo, forjar novas pessoas e nova criação. O desafio de imprimir hoje na pessoa uma mudança radical implica em uma dedicação que vai além do assistencialismo de uma simples cesta-básica. Uma nova pessoa nasce também com novas e sinceras amizades, com um novo emprego, nova chance, nova dignidade!

O segundo assunto abordado pela história do Cego Indigente é sobre o questionamento da fé.

Olhando o texto bíblico mais e amiúde, podemos perceber que o Homem Sem Nome é interrogado várias vezes. E a cada vez que ele é interrogado, o seu conhecimento sobre Jesus modifica. Na primeira vez, Jesus é só um homem. Um mago qualquer que fez alguma mágica qualquer com barro e curou-lhe olhos. Na segunda vez, quando foi interrogado pelos fariseus, doutores da lei, seu conceito sobre Jesus já não é o mesmo: Jesus agora é um profeta! E já na terceira vez, quando é interrogado pelo próprio Jesus, este indigente afirma crer no Cristo, chama-o de Senhor da sua vida e o adora! Tudo isso, graças aos constantes interrogatórios. Interessante não é?

Interessante mesmo é que muitas cristãs/os, com medo de fragilizarem sua fé; com medo do desafio que é conhecer a Deus de mais perto, não questionam sua fé. O resultado desta prática de não buscar aprofundar os conhecimentos a respeito das coisas de Deus está estampado nas TV’s. Está estampado nos rádios, nas músicas... cujas teologias revelam um Deus carrasco, cobrador e trambiqueiro, que troca moedas sofridas de suor por alguma “graça” ainda não alcançada. Um Deus que está acorrentado à nossa fé (ou falta dela) e ao nosso pecado (ou falta dele). Estas idéias equivocadas são frutos de uma fé que não vive neste mundo e que se recusa a pensar.

A Palavra de Deus nos mostra o quanto sofre o povo que não compreende a sua palavra. É preciso meditar na Bíblia dia e noite, escondê-la por entre os neurônios buscando não pecar contra Deus e contra o próximo. Quem não está disposto a aprender sobre Deus e colocar sua fé à prova, está correndo o sério risco de não estar fazendo a vontade do Senhor. A exemplo do “Homem Sem Nome”, que teve a sua fé lapidada pelos vários interrogatórios, quando questionamos a nossa fé, conhecemos melhor o Cristo a quem servimos e somos capazes de cumprir a sua vontade.

Apenas mais um dedo de prosa para concluir:

Voltando a ilustração do filme, a história de hoje não teve uma locação definida e sequer o nome da personagem principal apareceu nos créditos. Por que isso? Talvez para nos dizer que esta história pode (e deve) se repetir em qualquer lugar, com qualquer elenco. A ação libertadora e transformadora de Jesus continua acontecendo hoje. Acontece nas esquinas da vida com as inúmeras pessoas sem nome com quem esbarramos na calçada, no metrô... Com os indigentes que vemos largados pela rua, sobrevivendo com o que lhe dão, tendo o céu como seu teto e o jornal como cobertor.

Quando colocarmos a nossa fé a prova, vamos descobrir que nós, como luz do mundo, devemos levar a luz para estas pessoas que sequer nome tem. Através de atitudes concretas, que produzam vida, assim como Jesus, devemos levar nova vida até aos nossos irmãos e irmãs que esqueceram seus nomes em algum lugar da história.
Quando colocamos nossa fé a prova, descobrimos que afinal de contas, essas pessoas tem muito a nos ensinar.

Que o Deus das luzes possa achar em nós portadores da luz divina que ilumina a fé e transforma a vida.

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