sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Mar e os seus monstros

E os discípulos, vendo-o caminhar sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo.

Mt 14. 26


Este certamente é um texto clássico, onde muitos pregadores por vezes já fizeram vários exercícios de interpretação. Hoje, à luz do conhecimento que nos foi confiado por Cristo, por intermédio de seus servos professores, gostaria de partilhar um pouquinho do que Deus me mostra ao ler este texto.

Em primeiro lugar, é interessante notar um símbolo importantíssimo neste relato: O mar. Neste caso em especial, não se trata de um mar de fato. O lago de Genesaré é tal qual um açude de grandes proporções – iguais a alguns que temos no Ceará, cujas margens se perdem no horizonte, e por não secarem nunca são tidos por “encantados”. Interessante é que para os Judeus do primeiro século havia qualquer coisa de encantado no mar também. A gente precisa se lembrar que naquela época pensava-se que a terra era chata e que, ao alcançar o “fim do mar” os navegantes cairiam perdidos no nada. Isso se antes não fossem devorados pelas feras marinhas. Os demônios do mar!

Sabendo disso, Jesus pediu aos seus discípulos que fossem na frente enquanto ele despedia a multidão (v. 22). Até aqui tudo bem. Seria uma passagem tranqüila, afinal Pedro Tiago e João foram pescadores no passado e tinham prática no manejo do leme. No entanto o dia vira tarde, a tarde vira noite e nada de Jesus aparecer. E para piorar a situação, os demônios do mar ficam revoltosos e atacam o pequeno barquinho dos discípulos com ondas.

Em tempos de perseguição, algumas figuras mudam de cor e nome. Quais seriam os demônios que o judeus tinham de enfrentar todos os dias? Os Romanos! O som da marcha das legiões romanas zunia aos ouvidos como o som de muitas águas e os pobres da Terra estavam à sua mercê.

Da mesma forma hoje. Somos homens e mulheres inseridos no meio de um sistema que, por natureza é pecaminoso. Hoje não é o exército romano que marcha contra nós. É a política corrupta, é o nosso irmão que não teve educação mas o crime como alternativa, é o preconceito que os nossos irmão tem com a cor da nossa pele ou com o estado do qual viemos. E não raramente somos açoitados e oprimidos por esses grilhões: Um político ladrão, um assalto, a descriminação...

Mas na quarta vigília da noite, quando está para amanhecer, lá ao longe aparece o salvador. Os discípulos mais uma vez têm medo porque não conseguem acreditar que aquele que vinha era o mestre. Afinal, como ele poderia andar sobre o mar? Como ele poderia andar sobre as legiões romanas? Como ele poderia andar tranquilamente sobre o sistema demoníaco?

Tenham bom ânimo, coragem! Sou eu! Não tenham medo! É a resposta de Jesus. As ondas podem ser fortes e o vento pode até dificultar a visão. Mas não confundamos Jesus com uma miragem formada pelo vento. Jesus não é uma esperança inalcançável. Ele está ali, na nossa frente, andando sobre as águas e disposto a entrar no nosso barco.

Pedro, como sempre, se dispõe a realizar o mesmo feito e pede para andar sobre o mar. Ele até consegue! Mas quando olha para o tamanho das ondas, começa a afundar.

Eu não o culpo. É bem provável que se eu estivesse no lugar de Pedro nem tentaria! Vendo aquelas ondas enorme vindo contra mim em plena madrugada... É bem certo que a minha fé vacilaria também. E você? Sua fé vacila também? Quando nos propomos a viver na superfície desse sistema pecaminoso, por muitas vezes somos tentados a parar a caminhada. Lá no fundo do mar é tudo mais tranqüilo! Frente aos açoites que o mundo deflagra ardentemente em nossos lombos, a vontade que temos é a de nos deixar render e se entregar. “A vida é assim mesmo” é o que dizem os que se deixam conformar com esse mundo. E quando menos a gente espera, está absorvido pelo pecado do mundo.

É a mão salvadora de Cristo que se estende até o fundo do mar e nos puxa de novo para a superfície; que questiona a nossa fé e que nos salva da nossa própria danação.

Aliviados, os discípulos veem o mar se acalmar e confessam animados: És verdadeiramente o filho de Deus.

No decorrer de nossa caminhada cristã, nossa vida – nosso barco – será constantemente açoitado por ondas e ventos. Afinal, estamos na superfície! Mas Cristo é verdadeiramente o Filho de Deus e ainda que não pareça às vezes, ele está cuidando de nós. Está caminhando em nossa direção procurando navegar conosco.


Que Deus nos abençoe.

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