segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um discípulo modelo

“(…) No mesmo instante o cego começou a ver de novo e seguia Jesus pelo caminho”
Mc 10. 52b

Todos nós temos pessoas que admiramos e que se tornam os nossos heróis particulares. Seus exemplos de persistência e de luta por um país melhor nos motivam a copiar suas atitudes. Essas pessoas podem ser homens e mulheres do mundo secular – como Ayrton Senna, Renato Aragão, Barack Obama, Michael Jackson – ou do mundo religioso – como Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, John Wesley entre tantos outros. Tenho certeza que pelo menos um dos leitores tem como seus “espelhos”, algum pregador da TV ou grande escritor gospel.

Como eu sou uma pessoa que não gosta muito dos famosos de hoje em dia, decidi procurar nos Evangelhos um exemplo a ser seguido. Para isso, resolvi ler os capítulos oito, nove e dez do livro de Marcos. Eles compreendem uma série de sermões e ensinamentos que Jesus profere aos discípulos, revelando aí um pouco da personalidade de alguns nomes importantes para o Cristianismo: Pedro e Tiago e João. Fortes candidatos para Heróis. Vejamos o que Marcos nos fala a respeito deles.

Pedro. Depois da ascensão de Jesus Cristo, Pedro foi conhecido com um grande pregador. Aliás, o primeiro a pregar à uma multidão. E como resultado de sua pregação, muitas foram as conversões naquele dia de pentecostes. Entretanto o passado de Pedro o condena. São feitas a ele acusações de ser muito nervoso. Violento até! Dizem que Pedro também não era uma pessoa muito “letrada”. Tanto que, para escrever suas cartas, ele precisou de ajuda. E até mesmo depois da experiência do Pentecostes, ele adotou algumas posições questionáveis, sendo repreendido pelo apóstolo Paulo.

O que mais depõe contra Pedro é o texto de Marcos 8.33. Jesus não está repreendendo um demônio em Pedro. Ele está chamando o próprio Pedro de Satanás, de tentador. Tentando dissuadir Jesus de seu sacrifício na Cruz. Suspeito que ele talvez não seja um bom exemplo – segundo Marcos, é claro.

Tiago e João. Não é à toa também que os cantamos a musiquinha “Pedro, Tiago e João”. Esses dois irmãos deram o que falar. Seu chamado foi simples e conciso. Jesus foi até o seu lugar de trabalho e os chamou para serem seus discípulos (1,19-20). Sempre que Jesus se retirava para orar, eram esses três nomes que ele chamava. João fora, várias vezes, chamado de discípulo amado.

Mas essa “maior afinididade” com Jesus não deu em boa coisa. Subiu à cabeça dos irmãos (ou da mãe deles) ao ponto de eles pedirem para sentarem-se ao lado de Jesus no Reino dos Céus (10.37) e tomar do mesmo cálice de Jesus. Bom, o resultado disso – dependendo do ponto de vista – não foi muito interessante. Tiago acabou sendo o primeiro mártir cristão e sua história foi resumida em um versículo em Atos dos Apóstolos (12.2).

O Jovem Rico. Esta passagem também tem um forte candidato a exemplo a ser seguido. Afinal, quem não admiraria um jovem capaz de seguir a lei e as suas exigências? O trecho no capítulo 10.17-31 nos fala sobre esse jovem. Rico – provavelmente gozando de todos os benefícios que o dinheiro poderia proporcionar – chega até Jesus e diz que é cumpridor da Lei. O que lhe falta para entrar no Reino dos Céus? Talvez o Jovem Rico não tivesse compreendido ainda o que realmente é o Reino de Deus. No reino de Deus, não existem ricos e pobres, melhores ou piores. Lá todos são iguais. Se ele tivesse percebido isso, ele sequer teria interrogado Jesus sobre esse assunto.

O cego de Jericó. Eu quase desisti de procurar exemplos neste trecho da Bíblia e pensava em mudar de livro quando me deparei com a história do Cego de Jericó. Um mendigo sentado à beira do caminho, fora da cidade, indigno de ser sequer tocados pelos judeus da época. Mas este mendigo só de ouvir fala a respeito de Jesus já o reconheceu como messias prometido (10.47). Quando mandaram ele se calar, foi persistente e continuou a confessar que Jesus era o messias. E diferente de muitos pretensos discípulos e apóstolos de hoje em dia, não chegou pedindo um carro importado ou um haras cheio de cavalos caros. Ele pediu por misericórdia. Ele reconheceu que ele necessitava da misericórdia do Messias. Ele teve fé que o messias teria misericórdia dele.

Jesus opera um milagre. Devolve a vista ao cego. E como todas as vezes que lemos a respeito de um milagre na Bíblia, paramos nossa leitura por aí. Mas a história de verdade não pára. Junto com o milagre da visão – talvez o cego agora estivesse vendo mais do que os discípulos – Jesus opera um verdadeiro milagre no coração do cego que, sendo mais corajoso que Pedro, Tiago e João, começou a seguir Jesus Cristo mesmo este estando tão próximo da sua morte.

Olhando para o exemplo do cego, fiquei intrigado. Seria ele o exemplo de discípulo? Afinal ele fez muito mais do que muitos de hoje em dia fazem. Viajando um pouco mais na história, percebi então o seu verdadeiro significado: O Cego foi simplesmente o “cego à beira do caminho”. Pedro pensava ser o guarda-costas de Jesus, Tiago e João queriam ser os “governadores” do Reino dos Céus. Aquele homem confessou a cristianidade de Jesus porque ele sentiu (e não apenas soube) essa verdade em seu coração. Enquanto as pessoas à sua volta tentavam calá-lo – é feio gritar – ele não silenciou os seus sentimentos para ser mais um na multidão. Ele fez o que a sua personalidade achava correto.

A grande lição que esse cego nos deixa é que: Deus quer que sejamos nós mesmos. Não uma mera cópia de um personagem – da TV ou da Bíblia.

A Palavra nos ensinou hoje que Deus revela o seu querer nas pessoas simples. Ele não espera – nem deseja – que nós sejamos PODEROSOS ou POPULARES. Não são palavras ou roupas bonitas que nos fazem especiais perante Deus. Não é a nossa santidade que faz com que Deus tenha misericórdia de nós. Isso tudo vem de Graça! Ele deseja sim que sejamos nós mesmos porque quando isso acontece, Jesus Cristo passa a se revelar em nós. Quando assumimos nosso verdadeiro caráter e não nos escondemos por trás de uma máscara de “santo” é que Jesus Cristo começa a trabalhar em nós da forma mais intensa que podemos imaginar. Por isso eu digo para vocês: O exemplo de cristão a ser seguido é você mesmo.

Você acredita que pode ser um cristão modelo?

Deus nos abençoe!

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